Quem conhece minhas preferências dentro do jornalismo e algumas das principais referências de bom jornalismo não se surpreenderá com essa indicação. Um dos mestres do jornalismo literário (JL), o estadunidense de ascendência italiana Gay Talese manda bem até quando relata histórias e reportagens que não renderam o esperado, não se transformaram nos livros que ele esperava e deixaram lacunas impreenchíveis.
É que o escritor de não-ficção se preocupa tanto com a reconstituição e contextualização dos cenários e circunstâncias em torno de suas tramas, e sobretudo personagens (porque JL só existe com a humanização em primeiro plano), que mesmo narrativas consideradas inconclusivas nos cativam, agarram, conduzem nossa curiosidade e sede de leitura por páginas a fio. E são mais de 500 em Vida de Escritor (A writer's life), sedutor também para nós, jornalistas, porque mostra as agruras, anseios, conquistas e fracassos (vários, aliás) do jornalista enquanto pensa, planeja, desenvolve e se movimenta atrás dos seus personagens e narrativas.
Amante do futebol e interessado na perspectiva de quem sai derrotado de uma competição, evidentemente que a história do livro que mais me interessou foi da chinesa futebolista, que aliás abre e encerra a obra. Por conta disso, me impacientou, em alguns momentos, as voltas e fugas de Talese para tratar de outras temas, demorando a retomar o assunto de sua busca por Liu Ying. Mas se ele foi fiel ao labirinto que é o percurso mental de um jornalista de criatividade efervescente, angustiado por nem sempre conseguir chegar às respostas que investiga, e com seus próprios dilemas e indecisões, quem sou eu para criticá-lo negativamente. A vida de escritor soa esse emaranhado complexo mesmo. Se você também a admira e gostaria de tê-la para sua carreira, como eu, boa viagem nessa leitura!
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