Quando eu vinha confortável, dirigindo meu carro com ar condicionado, pra me refrescar do calor que abrasava as mentes de todos lá fora, vi uma mulher lá fora, provavelmente com a mente abrasada.
Ela vinha tentando chamar a atenção dos motoristas como eu, pedindo qualquer dinheiro ou ajuda que viesse, e aquilo me deixou mal, pela lembrança de que não tinha um trocado decente para lhe entregar, revirando o painel do carro, os bolsos, porta-moedas, até encontrar alguma coisa, buzinar, pra que ela me visse e eu lhe entregasse uma moeda, e eu já me sentisse feliz, como se aquilo tivesse resolvido pra ela e pra mim.
Horas depois quando eu saía feliz da lanchonete, como se nada mais se bastasse e precisasse da vida, e tudo estivesse resolvido, com a barriga cheia, desejo saciado pelo alimento tão aguardado, e percebi uma criança sentada no banco pedindo ajuda, imediatamente eu me voltei, com quase nada trocado no bolso porque já tinha dado pra mulher do parágrafo anterior, revirei novamente e dei o que sobrou, como que por instinto, por obrigação. E até meus amigos repetiram o gesto, logo em seguida, e parecia novamente que tinha resolvido.
Quilômetros depois quando eu voltava pra casa, confortável no meu carro, satisfeito na minha fome, barriga cheia e vento no rosto, me incomodei quando parei no semáforo e vi aquele homem com um cartaz que quase não se entendia nada, porque já era noite e o cartaz era precário, mas ele pedia alguma ajuda. Fiquei mal, porque já tinha dado para a mulher do primeiro parágrafo, e ajudado o menino do segundo. E de fato sobrou muito pouco para ajudar o homem, muito pouco, mas mesmo o pouco que tinha eu entreguei pedindo desculpas, sem saber se tinha resolvido
E no balanço do dia em que ajudei três pessoas desconhecidas, que talvez com essa e outras ajudas tenham conseguido alguma comida ou bebida pra sobreviver mais um pouco, e que por isso eu teria tudo pra dormir mais feliz, não pude sorrir, porque mesmo que eu tenha tentado, não resolveu foi nada.
Um comentário:
Pois é filho, por mais que ajudamos é muito pouco ou quase nada do que essas pessoas precisam. Falta consciência, humanismo e caridade, principalmente dos governantes, seriedade prá construirmos um mundo melhor, mais justo. Bjos
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