20.6.17

Não resolve nada

Quando eu vinha confortável, dirigindo meu carro com ar condicionado, pra me refrescar do calor que abrasava as mentes de todos lá fora, vi uma mulher lá fora, provavelmente com a mente abrasada.

Ela vinha tentando chamar a atenção dos motoristas como eu, pedindo qualquer dinheiro ou ajuda que viesse, e aquilo me deixou mal, pela lembrança de que não tinha um trocado decente para lhe entregar, revirando o painel do carro, os bolsos, porta-moedas, até encontrar alguma coisa, buzinar, pra que ela me visse e eu lhe entregasse uma moeda, e eu já me sentisse feliz, como se aquilo tivesse resolvido pra ela e pra mim.

Horas depois quando eu saía feliz da lanchonete, como se nada mais se bastasse e precisasse da vida, e tudo estivesse resolvido, com a barriga cheia, desejo saciado pelo alimento tão aguardado, e percebi uma criança sentada no banco pedindo ajuda, imediatamente eu me voltei, com quase nada trocado no bolso porque já tinha dado pra mulher do parágrafo anterior, revirei novamente e dei o que sobrou, como que por instinto, por obrigação. E até meus amigos repetiram o gesto, logo em seguida, e parecia novamente que tinha resolvido.

Quilômetros depois quando eu voltava pra casa, confortável no meu carro, satisfeito na minha fome, barriga cheia e vento no rosto, me incomodei quando parei no semáforo e vi aquele homem com um cartaz que quase não se entendia nada, porque já era noite e o cartaz era precário, mas ele pedia alguma ajuda. Fiquei mal, porque já tinha dado para a mulher do primeiro parágrafo, e ajudado o menino do segundo. E de fato sobrou muito pouco para ajudar o homem, muito pouco, mas mesmo o pouco que tinha eu entreguei pedindo desculpas, sem saber se tinha resolvido

E no balanço do dia em que ajudei três pessoas desconhecidas, que talvez com essa e outras ajudas tenham conseguido alguma comida ou bebida pra sobreviver mais um pouco, e que por isso eu teria tudo pra dormir mais feliz, não pude sorrir, porque mesmo que eu tenha tentado, não resolveu foi nada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois é filho, por mais que ajudamos é muito pouco ou quase nada do que essas pessoas precisam. Falta consciência, humanismo e caridade, principalmente dos governantes, seriedade prá construirmos um mundo melhor, mais justo. Bjos