10.2.15

O corpo é teu, faz o que tu queres

Uma sociedade tão conservadora, como a brasileira, deixa de abordar e discutir abertamente, para todo mundo ouvir e participar, temas que incomodam os grupos dominantes, justamente por esses e a maioria do seu séquito serem conservadores. Pior do que preservar esse status quo, ao deixar de falar de assuntos ditos polêmicos, nosso país mantém minorias e grupos "alternativos" em silêncio, no medo de se expressar para todos verem, omitindo e mentindo sobre si próprios em nome da aceitação social. Não podem ser como são, nas escolhas e comportamentos mais pessoais, porque causariam vergonha à multidão. Não têm direito, portanto, a assumir o chamado da própria intimidade. Absurdo, não?

Vc viu, por exemplo, os candidatos das últimas eleições, ou algum representante do povo no poder, abrindo o debate e nos chamando a refletir sobre assuntos relevantes, que tocam a todos de alguma forma, porque existem e sempre vão existir, como legalização das drogas, descriminalização do aborto, casamento homossexual? Claro que não. Experimente dizer que apoia ou se beneficia dessas três medidas. Vão te acusar, ofender, execrar, daí pra violências maiores...

Felizmente nós podemos dizer o que pensamos nos espaços democráticos de que dispomos, como este blog. E é por isso que aqui eu digo o que escrevi nas linhas abaixo, para que, tomara, quem me lê se sinta encorajado a fazer o mesmo (com aquilo que concorde, é claro), e assim a utopia de uma sociedade mais inclusiva, respeitosa e libertária seja algo menos utópico. Ou mais humano.

Veja bem, o que está abaixo é apenas o que eu defendo, e não o que vigora, lamentavelmente:

O que quiser fazer com teu corpo e tua mente, sendo consciente, é problema só teu. Desde que não cause dano a outrem, direta ou indiretamente, ninguém tem o direito de te impedir. Podemos condenar tuas escolhas, tentar te dissuadir, mas te coagir ou punir, jamais. Nem eu ou qualquer autoridade constituída (família, governo, polícia, juiz, religião, etc etc).

Quer abrir mão do casamento? Tranquilo. Quer ter um casamento homossexual? Também. Quer se casar (ou simplesmente viver) poligamicamente, com relacionamentos íntimos em grupo, experienciando o poliamor? Claro que pode (qual o crime? Se teus parceiros concordam, nem traição é).

Casou-se (mesmo que sem oficializar - o que também é legal) e não quer ter filhos, nem animais, nem plantas, nem casa própria? Fica à vontade! (também dá pra ser muito feliz assim). Ou optou por ter filhos, animais, plantas, casa e carro compartilhado com seu parceiro, sem se casarem? Totalmente OK!

Engravidou de forma indesejada? Aborta o feto, pois o corpo é teu. Não precisa correr riscos buscando a clandestinidade: não és uma assassina, e mesmo que discordem de ti, nada podem fazer além disso.

Quer se drogar em menor ou maior grau? O problema é teu (eu nunca nem me embriaguei, então dificilmente vou te encorajar. Mas nunca impedir). Prostituir-se? Idem. Não são casos de prisão ou de incentivo ao crime organizado.

Em relação a tua individualidade, eu diria "faz o que tu queres, pois é tudo da lei, da leeei!", parafraseando Raul Seixas em sua Sociedade Alternativa. (aliás, eu já tinha postado sobre ele e sua proposta de contramão lá em 2007). Pena que seja preciso uma alternativa de sociedade para gozarmos de tamanhas liberdades. Que na verdade, são apenas direitos!

Fui alternativo demais? Muito radical e na contramão "do mundo"? Lembro que o jornalista mais admirado do país em 2014, principalmente porque diz verdades incômodas pra quem quiser ouvir, pensa parecido... Pensa bem antes de julgar!

Sou humano e humanista, só.

(A entrevista completa do jornalista Ricardo Boechat, cujo extrato relacionei em link acima, pode ser assistida aqui)

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