10.3.13

Cobertura midiática policial distorce interesse público

O que as ocorrências policiais envolvendo Gil Rugai, o goleiro Bruno e Mizael Bispo têm a ver conosco? Se não somos parentes, vizinhos ou testemunhas dos eventos que se sucedem em cada caso, NADA!

Então porque os casos ganham manchetes, flashes de impacto e repórteres tarimbados deslocados pro acompanhamento in loco, gozando de status privilegiado no agenda-setting nacional?

Porque a nossa mídia sensacionalista se deixa seduzir pelo apelo à comoção das pessoas, sensibilizadas quando alguém é (brutalmente) assassinado, por exemplo. Um fato de interesse público zero, a princípio (por envolver entes particulares somente) é tão explorado e martelado por ela que a distorção nem se percebe: é crime, virou notícia; quanto mais bárbaro, mais "showrnalismo", parafraseando a clássica obra de José Arbex Jr.

Por que não concentrar atenção e esforços jornalísticos em crimes que lesem a sociedade, irregularidades que pesam no bolso de milhões de contribuintes, pautas que interfiram de alguma forma nas nossas vidas? Por que dá mais trabalho do que escancarar os dramas privados que viram B.O.s, dos quais parece que essa nossa imprensa não está disposta a prescindir porque índices de audiência valem mais do que audiências criticamente conscientizadas.

Imagem acima mostra manifestantes pedindo punição aos assassinos da menina Isabella Nardoni. Pessoas largaram suas vidas para se aglomerar em torno dos momentos decisivos, atraindo os olhos da mídia que acompanhava o caso e engrossando o "circo". Desprendimento solidário? Ou uma forma de alienação, de quem se deixa levar pela onda indignatória alimentada pelo sensacionalismo? Essas pessoas largariam suas vidas para protestar contra assassinos do patrimônio público, que não matam com crueldade e enterram com impacto midiático?

2 comentários:

Arianne Pessa disse...

Pois é, no fim todos sabem que casos como esses acontecem quase todos os dias sem toda essa repercussão, eles elegem o mais bárbaro mesmo e as pessoas ficam tão revoltadas com tamanha maldade, que ao invés de se inspirarem pra fazer mais bondades, não, acabam perdendo um pedacinho de bondade com tanta revolta... Várias pessoas que ficam indignadas com esses casos e saem pra protestar assim com tanto afinco são as mesmas pessoas que presenciam alguma cena de alguém caído no chão ou alguém que sofreu algum acidente e não ajudam... Parece q é mais uma maneira das pessoas ficarem revoltadas, perderem a fé no ser humano e não se ajudarem, não se unirem... É o jornalismo a favor da manipulação da negatividade e audiência..

Bruno Pessa disse...

Pois é, amor. Quanto mais monstros são alimentados pela forma sensacionalista como esses casos são expostos, menos acreditamos na bondade humana e mais nos distanciamos uns dos outros...