15.1.13

Lixo de (So) Ci (e) dade

Difícil ver cena mais desumana do que um ser humano catando restos no lixo para levá-los a boca instantes depois (não me refiro a quem revira o lixo atrás de metais e papelões para vender, é diferente).

Lixo faz mal à saúde, inda mais de quem mal a tem, lixo nos enoja. SP quase todo dia me enoja exibindo desumanidade, sendo um lixo de cidade.

Partilho da trágica constatação de Manuel Bandeira no poema "O bicho", publicado em 1948 (!):

“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem”.

4 comentários:

Rodolfo Cesar disse...

Essa realidade de comer o que outros jogaram fora nao eh visto so no Brasil. Fora de la tem muita coisa parecida. Mas podem acreditar, ha situacao bem pior que esta neste nosso mundo. Indignar-se eh o primeiro passo para mudar, mas nao basta so isso. Veja que de 1948 para ca muita coisa nao mudou!

Bruno Pessa disse...

Sim, pena que não é um cenário apenas brasileiro, e que há décadas e décadas a humanidade não evoluiu a ponto de evitarmos essa desumanidade!

Evaristo disse...

Ainda que em meio à dor de ver alguém revirar o lixo para dele se alimentar, acorre a constatação de que, se fôssemos nós ali, sem banho, sem comida e sem casa, estaríamos tão repulsivos quanto. Uma consciência honesta não consegue ver-se como superior ao próximo. E a honestidade, como as outras coisas fundamentais, não é relativa. Humano, humano. Citação "épica" a do Bandeira (isso ainda é febre nas redes sociais?).

Bruno Pessa disse...

Está certo, Evaristo! O mais próximo de "épico" que se mantém como bordão nas redes é o "#epicfail", que acompanha registros de pisadas na bola homéricas...