Comecei 2022 animado, com o espírito renovado pela mudança de emprego, que foi confirmada em 30 de dezembro de 2021.
Ainda no segundo final de semana do ano, no sábado se não me engano, comprei um relógio de pulso e dei um upgrade no celular, colocando película, capa e suporte para apoiá-lo e facilitar o acompanhamento de vídeos, por exemplo. Creio que foi no mesmo dia em que Amanda selecionou e compramos várias roupinhas para abastecer o primeiro ano letivo da Nina, inclusive agasalhinhos para o inverno que só chegaria meses depois.
Tudo muito bem, tudo muito feliz, até que, logo na terça-feira seguinte, no 11o dia do ano, tomamos um grande susto, numa terça-feira comum, perto das 20h, retornando da casa da sogra rumo ao nosso prédio: o silêncio da parada no semáforo, em meio às filas de carros nas várias faixas, foi bruscamente interrompido pelo estilhaçar do vidro do passageiro da frente violentamente quebrado pelo bandido. Ruído máximo seguido pelo gesto silencioso de esticada de mão para capturar o celular que estava no suporte do carro, ao lado do volante, aberto no Waze, que o iluminava ante a escuridão da noite ao redor.
Foi embora o celular e seu upgrade, para nunca mais eu vê-los. Era uma vez o vidro original do carro, da porta do passageiro da frente. Mas felizmente nós dentro do carro não fomos embora, não fomos feridos. A pancada do lado onde estava a esposa felizmente apenas lhe atingiu com estilhaços que não machucaram, bastava chacoalhar a roupa. Felizmente não foi uma pancada no vidro próximo da cadeirinha da filha, que poderia sentir um trauma difícil de superar. Poderia ser muito pior. Se eu tivesse notado a vinda do assaltante, a tempo de movimentar o carro ou fazer barulho para tentar demovê-lo, e ele estivesse com uma arma de fogo, o que não é incomum para quem assalta, poderia não ter ninguém para escrever este post, poderia não ter mais esposa, poderia não ter primeiro ano letivo da filha, poderia ter acabado uma família.
Felizmente pude repor o que perdi e a vida seguiu, mas com novos medos, porque não é só essa modalidade de assalto de celular que cresceu aos nossos olhos (em SP sobretudo). Andar numa calçada, esperar num ponto de ônibus, parar ou chegar a uma entrada de condomínio ou casa, todas essas são situações passíveis de passar um vagabundo, ou mais, te ameaçar e levar seu celular. Ou um grupinho de moleques te cercar numa entrada de metrô ou canto de calçada da Av. Paulista, maior ponto turístico da cidade, que é onde justamente você trabalha, e portanto precisa transitar quase diariamente. Nem precisam te cercar, se vc deixar alguma margem pra que um deles passe correndo por vc, e com um tapa leve algum pertence de valor que interesse, como vimos acontecer mais de uma vez ao longo do ano.
De modo que, além de não deixar mais o celular à mostra, no suporte, ao transitar por SP, e ficar alerta a cada parada em semáforo e congestionamentos outros (vários meses depois, ainda me vinha à memória a pancada no vidro e seu barulho), só fui sossegar quando arrumei um "celular do bandido" para carregar comigo, em qualquer situação considerada como risco potencial. E assim todos os dias em que fui trabalhar de transporte público, no trajeto feito a pé e durante a espera no ponto de ônibus, o celular do bandido (ligado, com chip, mas sem utilização prática) ia no bolso e o celular de verdade ia na mochila, menos exposto.
Também tivemos episódios de invasão por assaltantes no nosso prédio, duas vezes bem sucedidas: em uma, pararam na garagem, não subtraíram mais do que uma bicicleta, acho, e fugiram; na segunda, azar da vizinha que acabou rendida e seu carro levado, quando estava na garagem. O condomínio se mobilizou, discutiu muito, a empresa de portaria remota foi trocada, o portão da garagem reforçado e a nossa atenção também se redobrou nos momentos de entrada e saída do prédio, porque se um ou mais bandidos nos ameaçarem nesses movimentos, armados ou supostamente, o mais prudente será se render e rezar...
Cautelosamente, sobrevivemos ao medo de assaltos e à gravidade da Covid, pois mesmo vacinados várias pessoas do nosso convívio se contaminaram em algum momento, até dentro de casa teve teste positivado. Nosso ano de trabalho foi positivo (Amanda veterana Soka e eu novato no Aposta 10), Nina evoluiu socialmente no primeiro ano de escolinha, crescendo e encantando, meu doutorado caminhou rumo à conclusão no início de 2023, nosso candidato venceu o traste nas urnas presidenciais, nossa Copa do Mundo (vem aí o macropost no Medium) foi animada, o esporte rendeu grandes emoções, assim como a turnê derradeira de Milton Nascimento, e o fim de ano foi de boas, recarregando as energias para que a luta contra os perigos seja vitoriosa no ano novo também.